Wagner Moura, 39, um respeitável ator de cinema,
teatro e televisão do Brasil, escreveu esse artigo publicado na Folha de São
Paulo, muito elogiado pela crítica. Transcrevemos na íntegra esse artigo por
ser muito interessante para o momento atual. " Um impeachment sem crime de responsabilidade
provado contra a presidente é
inconstitucional." (Wagner Moura)
Pela
legalidade - "Ser legalista não
é o mesmo que ser governista, ser governista não é o mesmo que ser
corrupto. É intelectualmente desonesto
dizer que ser governista ou os
simplesmente contrários ao impeachment são a favor da corrupção. Embora me
espanto o ódio cego por um governo que
tirou milhões de brasileiros da miséria e deu oportunidades nunca antes
vistas para os pobres do país, não nego,
em nome dessas conquistas, a evidência de que o PT montou um projeto de
poder amparado por um esquema de corrupção. Isso precisa ser investigado de uma
maneira democrática e imparcial. Tenho feito inúmeras críticas públicas ao
governo nos últimos cinco anos.
O Brasil
vive uma recessão que ameaça todas as conquistas recentes. A economia parou e
não há mais dinheiro para bancar, entre outras coisas, as políticas sociais que mudaram a cara do
país. Ninguém é mais responsável por
esse cenário do que o próprio governo. O esfacelamento dos ideais progressistas
que tradicionalmente gravitam ao redor de um partido de esquerda, é também
reflexo da decadência moral do PT, assim como a popularidade crescente de
políticos fascistas como Jair Bolsonaro.
É possível que a esquerda pague por isso nas urnas das próximas
eleições. Caso acontecer, irei lamentar, mas é democrático. O que está em andamento no Brasil hoje, no
entanto, é uma tentativa revanchista de
antecipar 2018 e derrubar na marra, via judiciário politizado, um governo
eleito por 54 milhões de votos. Um golpe clássico. O país vive um Estado
policialesco movido por ódio político. Sérgio Moro é um juiz que age como promotor. As investigações
evidenciam atropelos aos direitos consagrados da privacidade e da presunção da
inocência. São prisões midiáticas, condenações prévias, linchamentos públicos,
interceptações telefônicas questionáveis e vazamentos de informações seletivas
para uma imprensa controlada por cinco famílias que nunca toleraram a ascensão
de Lula. Você que, como eu, gostaria que
a corrupção fosse investigada e os políticos corruptos fossem para a cadeia.
não pode se render a esse vale-tudo
típico dos Estados totalitários. Isso é combater um erro com outro erro.
Em nome da moralidade, barbaridades foram
cometidas por governos de direita e
esquerda.
A luta contra a
corrupção foi um mote usado pelos que apoiaram o golpe de 1964. Arrepio-me sempre que sinto alguém dizer que precisamos
limpar o Brasil. A ideia estúpida de que limpando o país de um partido
político, a corrupção acabará, remete-me
a outras faxinas horrendas que aconteceram ao longo da história do mundo. Em
comum, o fato de todos os higienizadores se considerarem acima da lei por fazerem parte de uma nobre
cruzada pela moralidade. Você que, por ser contra a corrupção, quer um país
governado por Michel Temer deve saber
que o processo de impeachment foi
aceito por conta das pedaladas fiscais e
não pelo escândalo da Petrobrás. Um
impeachment sem crime de responsabilidade provado contra a presidente é
inconstitucional. O nome de Dilma Rousseff não consta na lista, agora
sigilosa, da Odebrecht, ao contrário dos
que muitos que querem o seu afastamento.
Um pedido de impeachment aceito por um
político como Eduardo Cunha, que o fez
não por dever de consciência, mas por puro revide político, é teatro do
absurdo. O feito do ministro do STF Gilmar Mendes promover em Lisboa, um seminário com as lideranças
oposicionistas, como os senadores Aécio Neves e José Serra, é no mínimo
estranho. A foto do juiz Sérgio Moro com
o tucano João Dória em evento empresarial é, no mínimo, inapropriada. E se você também achar que há
algo tendencioso no reino das
investigações, não significa que você
necessariamente seja governista, muito menos apoiador dos corruptos. Embora a
TV não mostre, há muitos fazendo as
mesmas perguntas que você."-
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